Para eu saber de você, tenho, antes, que saber de mim. Tarô
é passear por dentro, mas de mão dada. Por dentro do arcano, do método, da
angústia ou dúvida. Por dentro do ser. Quem pensa que ler tarô é dizer apenas o
que significam as cartas, ainda não entendeu que tarô de excelência é o que tem
coerência no universo dos dois sujeitos e na dinâmica que aí se monta. Ele tem
que levar luz a quem pergunta, mas torna-se híbrido se quem o traduz não o
compreende para além do mecânico. Um arcano jamais será exatamente igual em
cada leitura; um mesmo conceito humaniza-se, particulariza-se, no contexto de
cada indivíduo. Reside aí a arte verdadeira do instrumento e, a meu ver, a
esfera do sublime que ele inclui. Ler para você, por você, com você, juntos: o
tarô, você e eu. Meu papel vai além de conhecer as cartas: eu devo entender que
língua você fala, para que a tradução faça real sentido, sentido dentro do teu
universo único, pessoal, especial. A eventual “fuga” de um Carro torna-se
autodefesa em um, escapismo em outro, estratégia num terceiro; O Julgamento
será pecado e preço para quem tem formação judaico-cristã, o surgimento do ser
autêntico em quem não depende de um pai-deus, a ressurreição espiritual
planetária para quem só compreende o indivíduo dentro de um todo maior. O Mundo
é belo e é término; é júbilo e é dispersão; é alcance e é demais-da-conta.
Quando leio pra você, leio entendendo você e buscando o
melhor caminho para a sua mente e o seu coração.